terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Os Três Grandes do Mar

A Segunda Guerra Mundial foi marcada pelo quase genocídio completo de várias raças e povos. As decisões políticas tomadas e o desenrolar das operações militares em terra, envergonharam e envergonham a humanidade. Já, de modo oposto, a guerra no mar, pela sua peculiar característica de ausência do confronto direto entre tropas, ficando exclusivamente no embate entre equipamentos, proporcionou episódios épicos, até mesmo românticos, e, em muitos destes momentos, inclusive, com demonstrações de cavalheirismo impensáveis se observamos a guerra terrestre.

No teatro de operações marítimo, quatro navios protagonizaram as mais dramáticas e belas histórias já acontecidas em um conflito bélico. São eles os alemães Bismarck (Couraçado) e Graff Spee (Cruzador Pesado – apelidado de Couraçado de Bolso), o inglês Hood (Cruzador de Batalha) e o japonês Yamato (Couraçado). Nota: Couraçado ou Encouraçado, ambos os termos são corretos.

Há muito quero juntar num mesmo espaço estas fantásticas histórias como um tributo aos tripulantes que morreram. Admiro a coragem destes marinheiros, mortos, a esmagadora maioria deles, acreditando estarem defendendo suas respectivas pátrias, de nações que as ameaçavam. Os regimes que vigoravam nos países que compunham o Eixo transmitiram, com eficiência, à nação e seus soldados, a idéia de que a única forma de sobreviverem, era encetando uma guerra de conquista contra povos que desejavam dar fim à existência do modo de vida deles. Minha homenagem, com igual força, se estende à tripulação do Hood. Agora, com a criação deste blog, isto se tornou possível. Li sobre estas belonaves ainda quando criança. A grandiosidade dos eventos fáticos que as envolveram sempre me fascinou.

Começo pelo navio mais conhecido de todos. Por sua causa uma frase ecoou pelos quatro cantos do mundo e é, até hoje, a mais notória ordem militar já dada:

Afundem o Bismarck!

Mencionei o Hood como protagonista, em parágrafo acima, pelo que ele representou para a Marinha Britânica. Era o orgulho daquela Armada. Pois, foi o seu espetacular afundamento pelo Bismarck que transformou o Encouraçado Alemão no “inimigo público nº 1” da Inglaterra, e, a caçada a este navio de batalha, numa história das mais apaixonantes da 2ª Guerra. O Hood é, na verdade, coadjuvante na épica história do Bismarck.

O Hood











O Couraçado Bismarck, construído durante a Segunda Guerra Mundial tem este nome em homenagem a Otto Von Bismarck.












O moderníssimo navio de combate, foi posto a pique pela esquadra inglesa do Atlântico na manhã do dia 27 de maio de 1941. Ele fora alvo de uma das maiores caçadas navais do século XX, quando a maior parte dos navios de guerra da Grã-Bretanha, senhora da mais poderosa esquadra do mundo, colocou como prioridade máxima afundar o Bismarck. Com ele foi-se a possibilidade da Alemanha nazista interceptar pela superfície os barcos que vinham de todos os lados do mundo para abastecer as ilhas britânicas. Dali em diante, quem tomou a tarefa de infernizar os comboios aliados foram os submarinos.

Localizando o Bismarck

Saindo das nuvens que cobriam o vasto oceano, o Catalina, um avião de observação da RAF (Royal Air Force), logo visualizou o que lhe pareceu um enorme navio de guerra lá embaixo. Quando Dennis Briggs, seu piloto, tratou de manobrar para vê-lo melhor, foi surpreendido por uma ativa barragem de fogo que partira das torres do gigante. Era um navio inimigo. Certamente ele encontrara o Bismarck. Naquele instante, a partir das 10h30m do dia 26 de maio de 1941, todas as embarcações inglesas receberam o comunicado. O encouraçado alemão, de quem haviam perdido o contanto por mais de 31 horas, estava navegando em mar alto há uns 300 quilômetros distante da ilha da Irlanda. A ordem, peremptória, então veio diretamente do Almirantado: Afundem o Bismarck! Afundem o Bismarck! Estava para se encerrar uma das maiores perseguições navais de todos os tempos.


Orgulho da marinha alemã


O Bismarck fazia parte de um conjunto de modernos navios mandados construir por Hitler a partir de 1935 para recuperar o prestígio da Kriegsmarine, a marinha de guerra alemã. Além dele, saíram dos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, os Cruzadores Pesados Scharnhorst, Gneisenaue e o Prinz Eugen e o irmão gêmeo do Bismarck, o Tirpitz (no futuro falarei sobre ele, também conhecido como o “Rei do Norte”), caracterizados pela extrema concentração de tonelagem articulada com uma excelente artilharia de bordo que os colocaram na vanguarda das embarcações de guerra do seu tempo. Antes de tudo, estas embarcações eram um feito da engenharia naval alemã.


Operação "Rheinübung"


A operação Rheinübung, "Exercício Reno", que decidiu a partida do Bismarck e do Prinz Eugen de dentro do Mar Báltico para o alto mar, era o seguimento de uma outra operação, a "Berlim", ambas determinadas pelo almirante Erich Raeder em abril de 1941, levada a efeito pelos cruzadores Scharnhorst e o Gneisenau. Estes haviam afundado 22 barcos com mais de 115 mil toneladas, mas não puderam seguir em missão devido a problemas mecânicos e o temor de vê-los perdidos num ataque concentrado de aviões da RAF.

Ao tempo em que o Alto Comando da Kriegsmarine recolhia os dois cruzadores para a proteção do porto francês de Brest (a França naquela altura estava ocupada pelos nazistas desde junho de 1940), o almirante Lütjens traçou as diretrizes para que o Bismarck e o Prinz Eugen se lançassem pela águas do Mar do Norte, dando continuidade ao objetivo de localizar e afundar os comboios anglo-americanos. O fim de tudo era deixar o Reino Unido carente de forças materiais para seguir na guerra. A estratégia de Hitler era isolar as ilhas britânicas, assolá-las pelo ar com os bombardeios e impedir que recebessem qualquer auxílio vindo pelo mar, promovendo um lento garrotear das suas energias para obrigar Churchill e o governo inglês à capitulação.


A batalha do estreito da Dinamarca


Escorando-se no complicado litoral da Noruega (dominada pelos nazistas desde a invasão de 1940), depois de ter partido do porto de Gotenhafen, em Danzig, no Báltico, no dia 18 de maio de 1941, a dupla de belonaves achou por bem fazer um dilatado contorno pelas águas geladas da Islândia e da Groenlândia, com a intenção de cair sobre suas presas na metade do caminho do Atlântico Norte. Esta rota, cruzando águas pouco freqüentadas, também era a mais segura, evitando que os dois barcos pudessem ser reconhecidos pelos aviões-patrulha da RAF. Desde que eles rumaram para o oceano, teve início um jogo de esconde-esconde com os britânicos, onde por vezes eles eram localizados, e, em outras, perdiam-nos de vista por dias a fio. O plano do almirante Lütjens era fazer com que os dois navios atingissem seus alvos assim que eles ultrapassassem o estreito da Dinamarca, uns 500 quilômetros que separam a ilha da Islândia da Groenlândia. O almirante britânico Tovey não demorou a perceber a manobra e determinou a formação de duas task force, força tarefa, para esperarem os dois barcos alemães na saída do estreito, ao sul da ilha da Islândia.


A tragédia do Hood


A primeira força tarefa era composta por dois navios, o Couraçado Prince of Wales e o Cruzador de Batalha Hood, que, deslocados para lá, tentaram bloquear a saída do estreito da Dinamarca. Enquanto isso, uma segunda força tarefa, com uns 13 outros barcos (entre eles o King George V e o porta-aviões Victoria), corria em auxilio dos barcos ingleses. Na madrugada do dia 24 de maio de 1941 deu-se o encontro. De um lado um Couraçado e um Cruzador Pesado alemães, do outro um Couraçado e um Cruzador de Batalha ingleses. Um fantástico duelo de artilharia, onde os adversários mal se enxergavam pelos binóculos, afastados de 20 a 25 quilômetros uns dos outros, teve início. Na quinta salva de tiros disparada pelo Bismarck, de uma distância de 15 quilômetros, deu-se o infausto para os ingleses. Atingido em cheio, o Hood, um dos mais estimados navios da Home Fleet, a Marinha Britânica, explodiu de vez, afundando às 6 horas da manhã. Em apenas 3 minutos, 49 mil toneladas de aço foram para o ar e para o fundo do mar, visto ter explodido o seu paiol de munições. Mais de 1.400 marujos pereceram com ele, só três sobreviveram. O Prince of Wales, atingido em seguida, sem perder, porém, a possibilidade de navegar, bateu em retirada protegido por uma cortina de fumaça.


Tentando escapar


O Bismarck, porém, não saiu ileso do confronto. O duelo também deixou-lhe cicatrizes difíceis de serem reparadas em meio ao oceano. O almirante Lütjens concluiu que o barco não reunia mais as condições de cumprir com sua missão original. Decidiu então aprumá-lo em direção ao porto francês de Saint Nazaire, no litoral atlântico da França, para fazer os reparos necessários. Ocorre que ele teria que percorrer, com escassa proteção, 965 quilômetros em mar aberto para conseguir o intento. Justamente ao acertar o rumo de volta ao continente, é que o Bismarck, quase dois dias depois de ter posto a pique o Hood e de ter espantado o Prince of Wales da sua rota, foi novamente localizado. Ter sido avistado pelo solitário vôo do Catalina foi a sua perdição.


O Fim


Localizado, os ingleses decidiram-se por liquidá-lo primeiro por meio de torpedos, entre outras razões para poupar seus barcos de guerra de serem destruídos pelas salvas certeiras do Bismarck. A missão recaiu para o Ark Royal, o navio capitania da Força H (mais os encouraçados Renown e Sheffield) o mais poderoso porta-aviões da esquadra atlântica da Grã-Bretanha. Na direção do alvo, alçaram vôo várias esquadrilhas de Swordfish que conseguiram acertá-lo. Dois ou três torpedos obrigaram o grande barco a reduzir sua velocidade e a ficar girando no mesmo lugar devido a uma avaria no leme. No dia seguinte, o Bismarck parecia um touro de aço ferido de morte. O almirante Lütjens enviara às 21h40m a mensagem derradeira para os seus superiores: "navio sem condições de manobrar. Nós vamos lutar até o último cartucho. Vida longa ao Führer."


O Bismarck no fundo do mar


Era a hora dos toureiros se aproximarem dele para darem a estocada final. As 9 horas da manhã do dia 27 de maio de 1941, os encouraçados ingleses o King George V e o Rodeny assestaram suas alças de mira e abriram fogo contra o colosso que, navegando em marcha lenta, pouco mais podia fazer. Quando ele já estava bastante avariado, agonizando, os navios de guerra britânicos Dorsetshire e Nortfolk, aproximaram-se para golpeá-lo com seus torpedos. O capitão Ernst Lindemann, sem mais nada poder fazer, ordenou à tripulação que abrisse as comportas para afundar o navio, ao mesmo tempo em que a sua voz ressoou pelos alto-falantes de bordo ordenando que todos o abandonassem. Em poucos minutos, a água invadiu todos os compartimentos. Eram 10h39m da manhã do dia 27 de maio quando o Bismarck, fumegando e resfolegando, ainda taurino, afundou no Atlântico. O Oceano vinha reclamar a sua parte do botim. Dos 2.221 tripulante só sobreviveram 115.

Fonte: Mundo – História por Voltaire Schilling - O melhor site sobre o afundamento do Bismarck é o http://www.bismarck-class.dk, no qual retiramos a maior parte das informações.

Aqui termino a história do Bismarck. Adiante ilustro este tópico com vídeos do gigante alemão dos mares e do inglês Hood.

Ainda dentro deste tópico, em futuras edições, abordarei a história de dois outros ícones dos mares ao tempo da 2ª Grande Guerra: o colossal japonês Yamato, o maior Couraçado já construído e o Cruzador Pesado alemão Admiral Von Graf Spee, este último, protagonista da mais impressionante epopéia do teatro de operações marítimo, quiçá de toda a guerra







O Hood

2 comentários:

Anônimo disse...

Bassan,

Encontrei seu texto por acaso no google. Como sou fascinado por história da 2º Guerra Mundial acabei vindo parar aqui. Mas, tem um detalhe interessante que não apareceu em seu texto. O Bismarck poderia ter escapado dessa perseguição caso não houvesse uma obra do acaso. Um avião britânico lançou um torpedo que por sinal atingiu o único ponto fraco do navio: o braço que unia os timões ao casco. A probabilidade disso acontecer era de 0,001, pois o resto do barco possuia a proteção de um cinturão de antitorpedos. Além disso, o Bismarck contava com peças de reposição para qualquer tipo de avaria, porém o suporte do timão era um item que não havia no repositório. Sem o timão, o Bismarck não conseguia manobrar, ou seja, ficou a deriva e sem possibilidade de posicionar seus canhões contra a frota britânica.

Um abraço

Annibal Bassan Jr disse...

Anônimo, perfeita tua colocação. A ironia disto é que o avião responsável por lançar o torpedo que, na verdade, decreta o fim o Bismarck é um bombardeiro Swordfish, avião inglês biplano, pequeno, com capacidade de transportar apenas um torpedo e, já naquele momento, completamente obsoleto. O afundamento do Bismarck determinou o fim dos Couraçados como os "Reis dos Mares” e, como rei morto, rei posto, tem início a dinastia dos Porta-Aviões.

Obrigado pela visita.