Abaixo transcrevo coluna publicada no Estadão on line. Por quê me chamou atenção a matéria? Explico: nunca me seduziu a “parábola” do beija-flor que tenta, sozinho, e sem ganhar nada para isto, apagar o incêndio na floresta e quando questionado afirma estar fazendo a parte dele. Sempre me pareceu uma grande demonstração de desperdício de energia e tempo, além, de se tratar de um benemerismo tão utópico que dificilmente este pássaro conseguiria aliados. Vale dizer: se não tiver recompensa a entregar a outros, morrerá tentando sem alcançar o objetivo pretendido; um desperdício. Entenda-se recompensa como qualquer benefício a ser usufruído. No caso do incêndio da floresta, outros, certamente, se juntariam à pequena ave para salvar suas próprias vidas. Nunca esquecendo que o beija-flor está na empreitada por deliberação de sua moral interna, pois, pode ele, a qualquer momento, voar para longe da floresta em chamas. Não quero com isto dizer que não devemos praticar a caridade. Não, não é isto. Apenas acho que a prática do solidarismo sem que isto traga resultados práticos, palpáveis, ou é demonstração de falta de inteligência ou é hipocrisia da pior espécie.
Por outra faceta, sempre gostei da afirmação: “O que não tem solução, solucionado está.” Acrescento, apenas, que devemos buscar os meios necessários para minorar os efeitos colaterais do fato negativo, ou catastrófico, que se consumou ou está por se consumar. Pois bem! A “Teoria dos Jogos” que é defendida, entre outros, por John Nash, formulador do “Equilíbrio de Nash”, ganhador do Prêmio Nobel e cuja vida inspirou o filme “Uma Mente Brilhante”, aborda: de um lado, o polêmico tema do parágrafo anterior e por outro a reciprocidade de ações e a certeza da retaliação como pressupostos do “equilíbrio do terror” para garantir a paz. Forças contrárias e de igual intensidade se anulam.
Aos colegas, Delegados de Polícia que acessam o blog, lembro ter feito comentários sobre nossa conduta como categoria funcional no Grupo “Instituto dos Delegados” criado e moderado pelo meu colega e particular amigo Dr. Zavataro. Lá, nas mensagens nºs 428, de 05.10.2006 e 2389, de 02.08.2007, abordo conduta classista que se encaixa na “Teoria do Jogo” e no “Equilíbrio de Nash”. Não transcrevo, aqui, o teor por tratar de temas relativos, exclusivamente, à nossa profissão. Também, ilustro esta postagem com dois vídeos do YouTube. Num vemos cenas do drama “Uma Mente Brilhante”, o qual elenco entre os dez melhores filmes que já assisti, e noutro o verdadeiro John Nash.
Segue, a matéria citada:
“Corte unilateral de emissão de CO2 seria 'ato de caridade', diz ganhador do Nobel
John Nash e outros três nobelistas de teoria dos jogos estão em São Paulo para evento na USP
03 de agosto de 2010
O ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1994, John Nash, cuja vida inspirou o filme Uma Mente Brilhante, vencedor do Oscar de 2001, disse em entrevista concedida na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP que mais do que um consenso da maioria dos cientistas, uma unanimidade em torno da questão do aquecimento global poderá ser necessária antes que os países aceitem metas obrigatórias de redução de emissões.
Nash foi o elaborador de um conceito, chamado equilíbrio de Nash, no qual os participantes de um jogo se veem numa situação onde nenhum deles é capaz de obter progresso individualmente, mas apenas por meio de uma ação combinada. Seminário realizado na FEA, e que termina nesta quarta-feira, 4, celebra os 60 anos da proposição do equilíbrio de Nash.
Perguntado sobre se a situação atual das negociações a respeito dos cortes de carbono seria um equilíbrio desse tipo, Nash ponderou que, do ponto de vista da teoria dos jogos, não faz sentido um país assumir metas firmes de corte de CO2 se outras nações de igual nível de desenvolvimento não o fizerem. "Assumir sozinho o fardo de salvar o planeta seria como um ato de caridade, como dar dinheiro para a sua igreja mesmo se outros fiéis com a mesma renda que você não o fizerem".
O trabalho de Nash, que é matemático, se inscreve em um ramo da matemática aplicada muito usado por economistas e cientistas sociais - a teoria dos jogos - que analisa incentivos e cria modelos para determinar como pessoas e sociedades podem ou devem reagir a determinadas circunstâncias, a partir dos bônus e ônus de cada situação. É aplicada tanto no estudo de relações econômicas quanto na preparação de negociações e na elaboração de propostas de reformas políticas e institucionais.
Além de Nash, outros três ganhadores do Nobel de Economia por trabalhos relacionados a teoria dos jogos estão no Brasil para o seminário, que tem o nome oficial de 2nd Brazilian Workshop of the Game Theory Society.
Análises de incentivos às vezes podem levar a soluções contraintuitivas. O ganhador do Nobel de 2005, Robert J. Aumann, disse que a melhor forma de evitar uma guerra é garantir que as partes em conflito tenham incentivos para se abster da violência - e que o melhor incentivo não são concessões de parte a parte, mas sim a percepção de que o adversário é forte e está disposto a se defender. "Se todos os lados do conflito estiverem preparados para a guerra, não haverá guerra".
"Os campeões mundiais da paz foram os romanos, que mantiveram a paz por 400 anos. E qual era o lema deles? Se queres a paz, prepara-te para a guerra. E isso, sim, é teoria dos jogos", disse Aumann, explicando o argumento do discurso que fez ao receber seu Nobel.
A parte da teoria dos jogos que estuda e propõe mudanças em instituições - incluindo governos e parlamentos - esteve representada da FEA pelos nobelistas de 2007, Eric Maskin e Roger Myerson. "Pessoas respondem a incentivos", disse Maskin, resumindo a lógica por trás da teoria. "Se você precisa de uma razão para escolher entre A e B, e eu lhe der um prêmio para escolher A, é mais provável que você escolha A. Esse é o pressuposto".
Maskin faz a ressalva de que a teoria não é capaz de prever o que cada indivíduo vai fazer, mas que funciona bem com grandes grupos de pessoas.
"Embora eu possa desviar um pouco do comportamento médio e você possa desviar um pouco, se houver um número grande o suficiente de nós os desvios vão se cancelar e então, em média, a teoria faz um ótimo trabalho".
Myerson, que está participando de discussões sobre o sistema eleitoral brasileiro, compara a dificuldade de criar os incentivos para uma reforma política com os envolvidos nas disputas sobre livre comércio. "As indústrias ameaçadas pela competição estrangeira têm uma ideia bem clara do que podem perder, e comunicam isso aos governos", disse ele. "Já a perda, menor em cada caso individual mas sofrida por milhões consumidores, por causa da proteção, teve de ser articulada pelos economistas".
Da mesma forma, disse Myerson, estudiosos de teoria dos jogos devem se esforçar para articular e apresentar o que está em jogo para o eleitorado.
O pesquisador declarou que uma de suas inspirações para entrar no ramo de teoria dos jogos foi o romance Fundação, de Isaac Asimov, "no qual um matemático cientista social salva o Universo".
"Não creio que um dia saberemos o bastante para prever o futuro", disse ele, referindo-se ao poder da ciência social fictícia apresentada por Asimov em seus livros, capaz de prever os rumos da sociedade ao longo de séculos. "Mas acho que podemos, sim, evitar desastres. Não prevendo o futuro, mas projetando as regras do jogo".
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